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Brasileiro não acredita em ações de sustentabilidade
39% são mais radicais e não têm nenhuma crença nesse tipo de ação, enquanto 35% têm dificuldades para acreditar
A maioria da população brasileira não confia nas ações de sustentabilidade anunciadas pelas empresas no País. Levantamento divulgado ontem pela empresa de consultoria Kantar Worldpanel aponta que, para 74% das pessoas, as campanhas verdes não apresentam resultados efetivos. Desse total, 39% são mais radicais e não têm nenhuma crença nesse tipo de ação, enquanto 35% têm dificuldades para acreditar.
Apenas 26% dos entrevistados confiam e valorizam a mensagem transmitida. O estudo, feito em 2010, foi apresentado ontem, durante o debate Sustentabilidade na Era do Consumo, organizado pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais). A pesquisa aponta que o maior fator causador de desconfiança nos consumidores é o fato de não visualisarem o resultado final da ação.
"Muitas pessoas não acreditam quando as empresas fazem propagandas se dizendo sustentáveis por acharem que a ação é meramente comercial e de marketing", avaliou o diretor executivo da empresa, o espanhol Carlos Cotos. Na América Latina, as empresas de países como México, Colômbia e Bolívia têm mais credibilidade por parte dos consumidores quando anunciam campanhas relacionadas à proteção ambiental.
Apenas 29% dos brasileiros se lembram de empresas que realizam práticas de responsabilidade socioambiental.Cotos, no entanto, entende que muitos entrevistados confundem empresas com ONGs ao mencionar nomes de instituições com essa preocupação.
Outro dado mostra que, na opinião de 79% dos brasileiros, a própria população é a maior reponsável para influenciar mudanças no meio ambiente. Para 40% dos entrevistados, os meios de comunicação são os mais poderosos nessa tarefa, enquanto 39% avaliam que a criação da sociedade verde depende da ação de instituições educacionais, por meio da informação.
Apesar de ter ciência da responsabilidade perante o desafio de diminuir a produção de lixo e reduzir a emissão de gases tóxicos, 26% dos brasileiros declararam não praticar nenhuma ação em prol da natureza. No Peru, apenas 4% dos entrevistados disseram não ter preocupação com o meio ambiente.
No Brasil, apenas 2% da população declararam ter estilo de vida e hábitos totalmente baseados na sustentabilidade. O índice é extremamente baixo, principalmente se comparado com o Peru, onde 14% disseram ter total atenção com os impactos causados à natureza. Na Argentina e no Equador, esta fatia é composta por 12% da população, segundo a pesquisa.
Quando o questionamento é o que, de fato, assusta quando o assunto são os danos ao ambiente, 63% afirmam que desejam que os filhos vivam em um mundo melhor. Somente 6% dos participantes da pesquisa declararam não enxergar gravidade nos danos aos recursos naturais.
Aquecimento global é preocupante para 53%
A segunda razão que provocou mais preocupação nos brasileiros no ano passado foram os efeitos causados pelo aquecimento global. Entre os participantes da pesquisa, 53% mencionaram este dano à natureza entre os fatores preocupantes. O fenômeno está à frente de outras situações alarmantes para a população, como a crise financeira internacional (30%), o aumento dos preços (35%) e a Saúde (49%). O fator que mais preocupa a população é a insegurança,que foi mencionada por 62% dos entrevistados.
Na outra ponta, um dado positivo foi o crescimento no número de pessoas que já escutaram falar algo sobre o aquecimento global. A taxa passou de 77% em 2009 para 92% no ano passado.
O diretor executivo da Kantar Worldpanel avaliou que, apesar do aumento, faltam ações efetivas. "O povo já tem conscientização de que o aquecimento global é um problema sério, no entanto, poucos fazem, de fato, alguma coisa."
O estudo apontou também que 76% dos brasileiros aceitariam pagar mais caro por produtos que não tragam prejuízos ao meio ambiente.
O ambientalista e ex-deputado federal Fábio Feldmann defendeu a certificação de produtos comprometidos com o verde. "Assim estamos dando a oportunidade de escolha para o consumidor. Devem existir alternativas", avaliou Feldmann, que já foi secretário estadual do Meio Ambiente.
Outro ponto defendido pelo ex-deputado são incentivos por parte do poder público para empresas sustentáveis. "Os produtos dessas empresas deveriam receber incentivos fiscais e linhas de financiamento especiais. Seria uma forma de estimular essa política nas companhias", comentou.
Avaliação é que ações verdes ajudam negócios
Empresários de diversos segmentos presentes ao evento organizado pela Lide entendem que, nos próximos anos, só irão sobreviver no mercado as instituições que tiverem preocupações efetivas com o meio ambiente.
"As empresas têm que entender que podem ter lucros com as ações ambientais e que isso é uma tendência para o futuro", avaliou o empresário João Doria Jr.
Para Roberto Klabin, presidente do Instituto SOS Mata Atlântica e do Lide Sustentabilidade e sócio da Klabin Papel e Celulose, a preocupação ambiental já trouxe resultados financeiros. "Fornecemos papel para a Tetra Pak, que é outra empresa reconhecidamente sustentável. Se não nos preocupássemos com o meio ambiente, eles comprariam o material de outro fornecedor."
"Daqui para frente, as pessoas só comprarão produtos de empresas realmente comprometidas com causas ambientais e cujas embalagens não sejam prejudiciais à natureza", acrescentou o presidente da Tetra Pak Brasil, Paulo Nigro.
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