Considerada um remédio amargo, mas também um mal necessário em tempos de pressão inflacionária, a alta na taxa básica de juros, a Selic, deve retrair o consumo, ao elevar o custo do dinheiro a crédito, e aumentar a poupança. Além de restaurar um pouco da credibilidade do Banco Central (BC) no combate à inflação. O mercado aposta na elevação de 8% para 8,5% da Selic, na decisão que o Comitê de Política Monetária (Copom) divulga hoje, ao final da reunião que começou ontem.
Se confirmado, o aumento de apenas 0,5 ponto percentual na Selic não terá um impacto muito grande nas taxas de juros das principais linhas de crédito ao consumidor, no entanto, será mais um desestímulo ao consumo. Com o poder de compra corroído mês a mês pela inflação, a elevação do custo do dinheiro vai refletir negativamente nas vendas do varejo.
Para o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, o setor vive o pior momento em uma década. “No primeiro quadrimestre de 2012, o comércio cresceu 12%, mas foram 9% de aumento real e 3% de inflação. No mesmo período deste ano, o índice de crescimento também foi de 12%, mas com 9% de inflação e apenas 3% de aumento real”, avaliou.
De acordo com Bentes, o ajuste na Selic vai abalar a venda de bens de consumo duráveis, que estavam puxando os índices positivos do setor. “Além da alta do dólar, que eleva o preço à vista dos produtos duráveis, porque eles utilizam muitos componentes importados, agora, o preço a prazo também vai subir, devido às taxas de juros mais altas para compras financiadas”, afirmou.
Ex-diretor do BC e presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), Carlos Eduardo de Freitas explicou que a opção dos lojistas será estancar encomendas e baixar preços para desovar estoques. Assim, eles contribuirão para reduzir da inflação. “Com juros mais altos, é melhor e mais sensato poupar do que gastar. Até para o comércio, que deixa de investir em estoques e volta a aplicar no capital financeiro. No Brasil, a alta dos juros ainda vai contribuir para garantir mais credibilidade ao BC”, ponderou.
Ainda que o objetivo da alta da Selic seja exatamente reduzir o consumo, o diretor de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, afirmou que, a elevação dos juros afetarão pouco as operações de crédito (veja quadro). “Por conta da maior competição entre os bancos é possível que algumas instituições financeiras mantenham inalteradas suas taxas de juros, como já ocorreu no mês passado”, avaliou.
Oliveira alertou, ainda, que as opções de investimentos, que estão dando prejuízo este ano, terão pouca valorização com a Selic em 8,5%. “A caderneta de poupança vai continuar sendo mais interessante do que qualquer outra aplicação no curto prazo, bate todos os fundos de renda fixa”, ressaltou o diretor da Anefac.