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O que Anitta e Tom Cruise não aprenderam sobre dar feedback
Gritos, xingamentos e ameaças de demissão: como isso impacta o ambiente de trabalho?
O ator Tom Cruise virou notícia em todo o mundo nesta semana por ter repreendido, aos berros e xingamentos, membros da equipe do set de filmegens do filme "Missão Impossível 7". Em um áudio vazado pelo jornal inglês "The Sun", o astro de Hollywood pode ser ouvido enfurecido, reclamando de um grupo que se aglomerou em torno de um monitor sem manter o distanciamento mínimo de dois metros. Embora preocupado por motivos válidos -- e o ator repete diversas vezes sobre a importância do cuidado com distanciamento para que a produção não seja encerrada --, Cruise foi criticado por ter usado xingamentos e ter ameaçado os funcionários na frente da equipe.
No Brasil, cenas da série-documentário "Made in Honório", sobre a vida da cantora Anitta, despertaram comentários e notícias parecidas. Em um dos episódios da série, que estreou na Netflix na última quarta-feira (16), a cantora manda um áudio para seus funcionários reclamando de atrasos na produção do seu show no Rock in Rio e dispara xingamentos: "Quando eu chego aqui, não tem nada pronto. Quem resolve? Eu! Toda vez vocês falam que eu sou grossa, que eu sou escrota, então eu sou mesmo. Sou a pu** que o par** e o ca**lho de asa, porque vocês não deixam eu fazer as coisas sozinha, tem que ser do jeito... Não, f***-se, f***-se. Tá vendo o que tá acontecendo ali? Não tem roupa, não tem roupa! Sabe por quê? Porque vocês não se organizam, porque eu falo o que é pra fazer, e vocês não fazem."
Nos dois casos, fica claro que os famosos, que exerciam posições de liderança nos ambientes que ocupavam, falharam em conduzir as situações de maneira apropriada: em vez de passar um feedback construtivo, Cruise e Anitta foram agressivos. Para a coach de comunicação pessoal Aurea Regina de Sá, a comunicação dos artistas pode ter impactado na autoestima de cada colaborador. "Gritos, xingamentos e ameaças expõem a pessoa, e não o comportamento dela, e isso reforça a sensação de insuficiência", afirma a coach, que é apresentadora do curso "Falando Bem", disponível no Administradores Premium.
Conversamos com a especialista sobre como casos iguais a esses podem atrapalhar o ambiente de trabalho e como líderes podem passar feedbacks assertivos sem recorrer à agressividade. Confira:
As falas da cantora Anitta e do ator Tom Cruise são agressivas, com ameaças de demissão e muitos xingamentos. De que forma esse tipo de comunicação prejudica o ambiente de trabalho?
Existe uma diferença entre a pessoa cometer um erro e o comportamento da pessoa ser errado ou inadequado. Nos dois casos que viralizaram, a comunicação dos artistas tinha a intenção de chamar a atenção para o comportamento, mas por causa da forma como aconteceu pode ter impactado na autoestima de cada colaborador. Gritos, xingamentos e ameaças expõem a pessoa e não o comportamento dela e isso reforça a sensação de insuficiência. Em vez de pensar ‘eu fiz algo errado’, a pessoa conclui ‘eu sou uma pessoa errada’. Isso é mais intenso para quem não lida bem com situações de vulnerabilidade. A pesquisadora norte-americana Brené Brown, autora do best seller A Coragem de Ser Imperfeito, alerta para o risco de começarmos a acreditar que existe algo errado conosco, que nós somos pessoas más e defeituosas. O grande prejuízo desse comportamento é começarmos a agir com base nessas crenças e nos inibir.
Equipes com dificuldades de lidar com a vulnerabilidade e a vergonha são menos produtivas porque têm medo de arriscar e deixam de ser criativas. A liderança coercitiva que incita o medo não produz resultados saudáveis, mental e financeiramente.
Em ambientes onde a pressão do trabalho é alta e erros ou atrasos pequenos podem desencadear problemas gigantescos, como líderes podem elaborar feedbacks que expressam a seriedade da situação sem perder a educação?
1º Primeiro ouvir para depois falar. Faça perguntas para entender o cenário. O que motivou o atraso? Quais foram as dificuldades para entregar no prazo combinado? É importante que o líder entenda e não acuse. A comunicação empática pode ajudar a se colocar no lugar do outro para refletir, inclusive, sobre as dificuldades encontradas pelo colaborador e descobrir se foram motivadas por falhas do próprio gestor que talvez não tenha oferecido expectativas claras sobre determinado projeto;
2º Não punir. A ameaça já é um tipo de punição e impacta na autoconfiança do outro. Em vez de se manter contribuindo com a equipe, um colaborador ameaçado vai querer buscar uma oportunidade em outro lugar.
3º Acolha para orientar de novo e de novo, se for preciso. Quando alguém não entende uma orientação, em vez de responsabilizá-lo pela dificuldade, repense a sua forma de se comunicar. Incentive o momento do tira-dúvidas, confira se foi compreendido e modifique a forma de explicar para facilitar o entendimento do outro.
Como o líder, no geral, pode encontrar o equilíbrio para ser assertivo, e não agressivo, em sua comunicação?
Uma comunicação saudável é resultado do autoconhecimento. A prática do equilíbrio emocional pode começar a partir do aumento da autopercepção. Três ações facilitam esse caminho em qualquer tempo, mas especialmente em momentos de estresse:
1. Classifique os pensamentos. Elimine os que levam você a julgar o colaborador quando ele começa a explicar sobre um erro. Limpe a mente da fumaça que se instala no momento do nervosismo. Focalize os fatos e não as especulações que você cria.
2. Sinta as emoções que visitam você no momento do estresse. Dê nome a elas e comece a perceber onde elas atuam no seu corpo: no estômago, na garganta, no peito? Assim que você reconhece as emoções fica mais fácil controlá-las. Se elas assumirem seus atos, talvez você não consiga ser o protagonista.
3. Escute o que você diz. É importante que possa avaliar seu tom de voz, as palavras que escolheu dizer e o ritmo da fala. Se você não se ouvir, talvez diga o que não queria e num volume não desejado.
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